Contorno Corporal Pós Cirurgia Bariátrica.
A cirurgia bariátrica surgiu através da evolução de conceitos cirúrgicos na especialidade de Cirurgia Geral, proporcionando uma verdadeira revolução nas técnicas de Cirurgia Plástica que foram adaptadas para a correção de diversas distrofias que podem surgir com o após a grande perda de peso. Na medida em que proporciona uma recuperação da condição de saúde através da perda ponderal e da reeducação alimentar, se faz necessária a recuperação social deste indivíduo pela re-adequação da sua relação corporal.
A reparação do contorno corporal irá exigir a utilização de técnicas de Cirurgia Plástica variadas, de acordo com o tipo de emagrecimento que venha ocorrer e dos locais de gorduras lipodistróficas que por ventura permaneçam.
Imagem: Fernando Botero
O emagrecimento ocorre de forma gradual na maioria dos casos, sendo um pouco mais rápido nos primeiros meses em função do pós operatório imediato que passa pelas fases de dieta liquida e pastosa, momento este que deve ser acompanhado atentamente pela equipe, para que a desnutrição gerada não prejudique a cicatrização e até mesmo funcões elementares.
Para uma boa recuperação cutânea e muscular é indicado o início de atividades físicas após a cicatrização definitiva (em torno do 3o mês), o que poderá ser proporcionado por hidroginástica ou caminhadas de baixo impacto, visando a não sobrecarga cardiovascular e articular.
Após 1 ano da cirurgia bariátrica, a estabilidade de peso já deverá estar próxima, desde que sejam seguidas todas as orientações, assim se faz necessária a programação do tratamento reparador.
As cirurgias que são realizadas com maior freqüência são:
1. Plástica Abdominal – é a primeira cirurgia solicitada na maioria dos casos em virtude do desconforto causado pelo abdome em avental, como dermatoses de repetição e mesmo a dificuldade para se vestir e realizar higiene íntima. Pode ser realizada a Abdominoplastia Clássica (incisão horizontal abdominal baixa) ou abdominoplastia em âncora (com 2 incisões, uma vertical mediana e outra horizontal abdominal baixa em T invertido). A indicação varia de acordo com o caso (Cirurgia Aberta x Fechada – Videolaparoscópica, presença de hérnias, necessidade de correção de lipodistrofia epigástrica, etc). Esta cirurgia pode ser associada, de acordo com a avaliação, às mamoplastias ou braquioplastias (Cirurgia dos Braços). Para segurança utilizamos um dreno sob a pele durante uma semana conforme o caso.
2. Plástica Mamária – engloba a reconstrução das mamas com correção da ptose (queda) mamária nos mais variados graus, além do reposicionamento do complexo aréolo mamilar (CAM), da redução de volumes remanescentes com reposicionamento de retalhos glandulares e, por vezes, o preenchimento de mamas hipotróficas com implantes de silicose possibilitando a correção do volume mamário. Não recomendamos grandes volumes de implantes em virtude do risco de flacidez tardia em função da alteração da qualidade da pele causada pela obesidade prévia.
3. Correção de Ginecomastia – nos homens existe a possibilidade de correção da ginecomastia com lipoaspiração associada a remoção da glândula residual por incisão infra-areolar ou periareolar em casos de ginecomastias leves a moderadas. Mas para grandes ginecomastias somente a resseção de pele possibilitará a adequada adaptação do contorno corporal.
4. Lipodistrofia de Braços – deverá ser corrigida em casos com muita sobra de pele (“asa de morcego”), onde é removido o excedente tecidual na região medial do braço. Sendo a cicatriz aparente, esta indicação não se aplica idealmente para casos pequenos. Existem algumas variantes da técnica, mas não alteram a magnitude desta, no que diz respeito da execução simples e com pouca possibilidade de complicações. As variantes possíveis se encaixam ao longo do tórax na lateral com eventual “S” para junção a incisão da mama quando necessária alguma correção de flacidez no tórax.Saiba Mais.
5. Lipodistrofia de Coxas – realizada isoladamente para todos os casos, em função da posição na mesa – que facilita a abordagem (ginecológica) – e da necessidade de adaptação tecidual o mais simétrico possível em relação ao diametro das coxas e ao posicionamento de incisões. Podendo sem aplicada ao interior da coxa ou a parte lateral-externa. Saiba Mais.
6. Lipoaspiração – Associada a outras técnicas ou isoladamente, tem sua aplicabilidade para casos de gordura localizada, nunca como tratamento da obesidade ou acelerador do emagrecimento. Respeitando-se o limite legal de 5% do peso corporal. Lembrando-se que para uma melhor segurança, pode ser empregado um vasoconstrictor local (adrenalina) por meio da solução de infiltração, visando a diminuição da perda sanguínea durante a passagem das cânulas.
Qualquer outro procedimento de cirurgia plástica pode ser realizado, desde que seja adequado para cada caso e tenha sua indicação, sem comprometer a segurança do ato cirúrgico.
As associações de procedimentos são comuns em cirurgia plástica, mas devem ser empregadas com critérios. As mais freqüentes associações são:
1. Abdominoplastia + Mamoplastia
2. Abdominoplastia + Braquioplastia
3. Abdominoplastia + Cinturão posterior (BELT ou Circunferencial)
4. Lipoaspiração + qualquer uma das anteriores.
As associações poderão ser empregadas de acordo com o julgamento da equipe cirúrgica, em função das condições clínicas e das necessidades de cada caso, uma vez que tais associações exigem uma boa reserva orgânica de sangue e nutrientes, assim como um controle rigoroso do sangramento durante a cirurgia, tendo em vista o calibre aumentado dos vasos sanguíneos cutâneos, que se perpetuam em detrimento da perda ponderal, exigindo um maior tempo cirúrgico para segurança do controle da hemostasia, assim como a utilização de drenos.
A necessidade de uma perfeita integração entre o cirurgião plástico e o anestesista é imperativa para qualquer paciente, mas principalmente nestes casos, tendo em vista a programação de cirurgias reparadoras que irão ocorrer em série com intervalos médios de 4 meses. A realização desta série, em geral se baseia no sucesso do primeiro procedimento reparador.
As complicações esperadas para este tipo de paciente são geralmente relacionadas ao pós-operatório tardio, pelo aparecimento de seromas, sofrimento de bordos de cicatrização (Pacientes fumantes) e cicatrizes hipertróficas. Em relação ao pós-operatório imediato, o aparecimento de complicações esta diretamente relacionado ao cuidado pré e transoperatório, assim podemos esperar eventualmente hematomas, ou perda sanguínea transoperatória com necessidade de transfusão. Vale a lembrança que o perfil hematológico destes pacientes é de anemia crônica com recuperação lenta pela via digestiva. Portanto, experiência com este grupo de pacientes é fundamental para boa condução clínica e cirúrgica.